sábado, 21 de junho de 2008

Orgulhosamente só

Anda para aí uma lamúria porque a nova líder do PSD não teve uma única palavra para com as autonomias insulares. A dita corre ainda de forma razoavelmente surda. Mas, tendo em conta os becos por onde anda, é já suficientemente audível para se perceber que está assim encontrado um ponto de fricção entre a Rua dos Netos e a São Caetano.
Ou seja, o que passa a partir de agora a dividir os companheiros laranjas de aquém e de além mar já é muito mais do que a circunstância de a dra. Manuela Ferreira Leite não passar de uma representante do establishment, no cáustico dizer do ex-candidato a candidato a líder, Alberto João Jardim. A esse evidente facto, que é obviamente grave, juntou-se agora uma outra razão de queixa. A dra. Manuela é com toda a probabilidade contra as autonomias. Ou, no mínimo dos mínimos, está-se nesta altura mais ou menos borrifando para esse candente problema nacional que consiste em saber se os parlamentos das ilhas estão em condições de assegurar aos seus representados uma vida democrática decente. E isso, é claro, não pode ter perdão. O que, por outras palavras, há-de significar que, pelo menos este ano, os social-democratas madeirenses ficarão privados de confraternizar com a dra. Ferreira Leite na liturgia do Chão da Lagoa. É muito bem feito. Se quiser cá vir para a próxima experimentar a gincana etílico-radical que a maioria dos seus antecessores teve a oportunidade de conhecer, então que aprenda a tratar com mais respeito a autonomia insular.
É verdade que a dra. Manuela centrou o seu discurso nos magnos problemas da pátria. Do desemprego à inflação. Do escassíssimo crescimento económico ao dramático aumento do número de pobres. Mas não lhe haveria com certeza de ficar mal se tivesse acenado um mimo qualquer ao dr. Jardim. Era o mínimo que se lhe exigia. Sobretudo se tivermos em conta que praticamente todos os seus antecessores sedimentaram a prática quase ritual de uma palavrinha dirigida aos social-democratas das ilhas. Mas não. Fosse lá pelo que fosse, por uma questão de economia verbal, ou por não querer esquecer as traulitadas que lhe deu o líder madeirense, a Dra. Ferreira Leite ignorou o dr. Jardim. E isso não se faz.
Eu receio bem que o episódio possa ser interpretado como prova do crescente isolamento político de Alberto João Jardim. Um disparate, já se vê. Quanto mais não seja porque, tendo muitas, poucas ou nenhumas queixas, os líderes nacionais vão passando, ao passo que o dr. Jardim fica. Sozinho, mas fica.
Como? Isso não constitui prova nenhuma da putativa bondade política desta espécie de orgulhosa solidão à moda da ilha? De facto, não. Mas, deixem lá. O que possa perder-se em solidariedade ou companhia há-de ganhar-se seguramente em exotismo. E isso há-de ser com certeza alguma coisa.
Bernardino da Purificação

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