Desanimem os Cunhas e os Albuquerques, os Coitos e os Manuéis. Desespere a oposição. O dr. Jardim está aí, como a ganga, para lavar e durar. Ele não o diz em público, como é evidente. Limita-se a insinuá-lo. Como se pode depreender do anúncio que fez no final da última reunião da comissão política do PSD.
Remetendo-vos para o texto imediatamente anterior, recordo que o presidente Jardim anunciou a intenção de fazer das próximas eleições nacionais mais um dos seus plebiscitos. Descontando o facto de o homem andar há mais de trinta anos de plebiscito em plebiscito, importa que se diga que o anúncio tem uma importância política que em muito o transcende.
Repare-se. O dr. Jardim fez questão de comparar o novo plebiscito que aí vem com o que o que foi feito nas últimas eleições regionais. Nesse, o que esteve em causa foi a lei de Finanças regionais. No próximo, o dr. Jardim quer que o eleitorado se pronuncie sobre o alargamento dos poderes legislativos da Assembleia Regional. Mas, já que foi ele a fazer a comparação, vale a pena levá-la um pouco mais longe. Para recordar, em primeiro lugar, que a transcendência do leit motiv das regionais do ano passado constituiu um dos argumentos com o qual o dr. Jardim justificou a necessidade de uma sua nova candidatura. Dada a importância do combate político que com ele se iniciava, o nosso presidente, qual comandante em dia de tormenta, não podia abandonar o barco. Fazê-lo, para além de prematuro, seria atraiçoar a confiança dos que fielmente o seguiram nessa fantástica cruzada contra os ditames financeiros do Terreiro do Paço. É verdade que ficou tudo rigorosamente na mesma. Mas isso não passa de um mero pormenor esgrimido pelos cínicos. Até porque, como há dias muito bem explicou o dr. Jardim, o que importa é que os madeirenses ficaram a contar, a partir dessa altura, com o argumento (para esgrimir provavelmente na ONU), devidamente traduzido em votos, de que estão contra o tratamento que Lisboa lhes inflinge. E o mesmo há-de por certo acontecer no próximo ano. Com a vantagem de então passarem a ser dois os argumentos (correspondentes a outras tantas rejeições à sujeição ao jugo lisboeta) que ficarão na disponibilidade do povo da Madeira. O que o dr. Jardim não disse, e devia ter dito, é que será ele, e não um seu eventual sucessor, quem empunhará o facho do protesto. Porque o líder é ele. E porque não está certo que um aspirante a chefe inicie o seu mandato com uma tão grande responsabilidade aos ombros.
Por conseguinte, Jardim lá vai ter de continuar a saltar de plebiscito em plebiscito. Até por uma outra razão de natureza político-formal. Nenhum líder futuro pode sentir-se vinculado às decisões presentes de uma comissão política que não escolheu. As orientações estratégicas (com repercussão a médio e longo prazo) discutem-se e deliberam-se em congressos. Nunca em comissões políticas. Se alguém o faz é porque não tenciona sair tão cedo de cena. De maneira que bem podem desesperar todos os que aguardam ansiosamente pela partida do comandante. Ele só diz que vai embora para pôr toda a gente à bulha. E não é que lá vai conseguindo os seus intentos?
Bernardino da Purificação
Post scriptum
Depois de toda a gente ter constatado e comentado o óbvio, e umas quantas semanas depois de ter estalado uma das mais importantes polémicas relacionadas com a nossa insularidade, o dr. Jardim resolveu quebrar o silêncio em que vinha remoendo a existência: falou finalmente sobre a liberalização do espaço aéreo entre o continente e a Madeira. Eu pensava que ele ainda tinha algum pudor. Enganei-me. Esta de dizer que o Governo Regional foi enganado por Lisboa remete para o domínio da desvergonha. Não havia necessidade. Era mais digno admitir que o seu governo cometeu um erro de avaliação. Mas isso exige uma qualidade moral e intelectual que infelizmente não se vê.
Um comentário:
Ontem, em Gaula, teve a pouca vergonha de afirmar que o aumento dos preços dos combustíveis era da responsabilidade do governo da república e que este devia baixar os impostos sobre os mesmos. Infelizmente não há jornalista capaz de perguntar-lhe directamente, em frente das câmaras, se ele por acaso ignorará que quem define e fica com esses impostos na Madeira é ele "próprio". Há verdades que só se tornam verdades se ditas na televisão!
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