Ora aí está uma medida governativa de verdadeiro alcance social: a cerveja vai passar a escorrer com maior fluidez, por via de uma diminuição da taxa de IVA que sobre ela incide. Acho bem. Por um lado, o calor aperta. Por outro, as agruras da vida são tantas que o melhor é afogá-las a baixo custo.
É verdade que a democraticidade da coisa deixa um bocado a desejar. O tintol, por exemplo, está em choque perante tamanha discriminação. E, dos fundos do coma alcoólico em que o querem manter submerso, vai observando que já passaram há muito os tempos em que os molhos constituíam a sua mais rendosa serventia. O gin tónico nem quer acreditar no que lhe está a acontecer. Como se já não lhe bastassem, em matéria de estigmas, todas as ressacas e figadeiras que ocasionalmente provoca. E nem o velho scotch, esse cúmplice e fiel companheiro de tantas noitadas, consegue passar ao lado de tão discriminatória medida.
Compreendendo as razões de tais etílicos fluidos, não posso, porém, deixar de observar que governar é ter a ousadia de fazer escolhas. Quem nos governa gosta mais de cerveja? Pois fiquem sabendo que a democracia tem para isso bom remédio. Para a próxima vote-se em quem tenha a coragem de se comprometer com o tintol (sem qualquer desprimor para o branco, como é evidente), ou até mesmo com o gin ou com o scotch.
Dirão que estas duas últimas opções são francamente minoritárias quando comparadas com a cerveja ou com o tinto. Têm razão. Ainda assim, meus senhores, atrevo-me a deixar três ou quatro ingénuas e bem intencionadas perguntas. Afinal, o que é feito da tolerância? E o espaço e a voz das minorias, onde anda? Escolher o humanismo das democracias não significa assumir um compromisso de defesa dos mais fracos?
Estou seguro que todos responderemos que sim a estas singelas questões. Em todo o caso, até por ser pouco dado a coligações alcoólicas, insisto: governar é escolher. E o nosso senhor governo fez bem em optar. Ao menos por esta vez. Dava mais jeito que o líquido escolhido fosse outro? É verdade que sim. Mas, por favor, não se confunda gasolina com cerveja, como desataram já a fazer os maldizentes do costume. Mesmo que tudo isto não passe de mera conversa da treta dos petroleiros que nos mandam.
Bernardino da Purificação
Um comentário:
Deve ser uma forma de dar utilidade à nossa produção excedentária de cereais que não servem para outra coisa senão para cerveja! Ou será uma forma encapotada de sermos competitivos na exportação de água!? Lembro que o AJJ afirmou recentemente que seria um erro exportarmos a nossa água. Tenha sido por uma ou outra razão os boys da ECM agradecem!
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