À hora em que iniciou o seu discurso no congresso do PSD, Cunha e Silva estava longe de imaginar que o presidente do partido tinha pedido ao prof. Marcelo Rebelo de Sousa que lançasse na TV o nome de Manuel António Correia, como uma espécie de terceira via na disputa da sucessão. Se lhe passasse pela cabeça a traição, teria dito certamente outras coisas. Mas como lhe faltam ainda faculdades divinatórias, lá caiu ele no discursozito carregado de escassíssimos sentidos apontado a um único objectivo: o de explicar aos congressistas e à RAM que essa coisa de governar uma autarquia é uma coisa, ainda que essa autarquia seja o Funchal, mas que liderar a Região em direcção ao futuro é outra coisa bem diferente. Tão diferente, imagine-se, que até precisa de um projecto.
Apesar de achar que Cunha e Silva não merecia a partida que Jardim lhe pregou (é um maroto, este Jardim), confesso que fiquei encantado. Na verdade, gosto sinceramente de projectos. E até aceito a sugestão implícita do "vice" de que a Madeira precisa de uma boa meia dúzia deles. Quanto mais não seja, para poderem ser contrapostos ao casuísmo reinante, que se exprime pela construção de marinas, que um dia acabarão por vir abaixo, que se afirma pela edificação de pomposos centros cívicos (seja lá isso o que for), que as Câmaras hão-de depois arrendar a preços malucos, e que passam por essa prova de bom gosto de novo rico que consiste em trazer Boccellis, Carreras, e outros líricos de renome, para umas dispendiosas soirées para os amigos.
Não sei se foi deste projecto que Cunha e Silva falou no seu discurso. Se calhar, até foi. Mas sei que se eu fosse o dr. Jardim (cruzes, credo, abrenúncio, que me seja perdoada tão atrevida comparação), também iria a correr ligar ao Marcelo pedindo-lhe encarecidamente que lançasse para a corrida um outro nome, uma outra via.
Bernardino da Purificação
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