segunda-feira, 22 de junho de 2009

A inevitabilidade do regresso

Regresso. Estimulado pelo doce contentamento que se tem quando se volta. Estarrecido, porém, com os estados de alma que surpreendi em boa parte dos comentários que li. Abreviando, a coisa mais parece uma montanha-russa. Com píncaros de incenso que de todo não mereço. Entremeados por chibatadas depressivas na alarve retoiça de um pelourinho que não esperava. Um retrato, em suma, da vidinha que levamos. Que me faz lamentar não ter percebido antes que fazer um blogue é o mesmo que aceitar o jugo de um contrato leonino (logo eu, que não escondo a minha militante condição de lampião empedernido..!) que só me traz obrigações. E que me leva a suspeitar que há por aí muita intolerância escondida por debaixo de um estaladiço (valha-nos isso!!!!) verniz democrático.
Se bem entendi, há quem tenha passado a exigir de mim a aceitação do ritual diário da escrita e o cumprimento de uma agenda política qualquer. Como se me fosse negado o direito de escrever o que simplesmente me apetece. Ou como se alguns dos meus estimados seguidores reivindicassem para si o direito de me expropriarem de um espaço que eu próprio aceitei voluntariamente partilhar. Ignoro, como é evidente, onde é que esta gente vai legitimar semelhante conduta. Temo, no entanto, que os catecismos onde se inspiram possam ser versões usadas das cartilhas que dizem condenar.
Não é meu propósito tornar demasiado pesado o fim deste interregno. Até porque ainda respiro os fumos da Makumba (assim mesmo, com kapa e maiúscula, numa para mim deliciosa private joke) que me levou ao retiro. Porém, não posso deixar de afirmar que ando farto dos penduras que aqui se instalaram de armas, rancores, bagagens e ressaibos. Cabem cá todos, como é evidente. E aqui ninguém é superior a ninguém. Mas já que falamos de estados de alma, concedam-me o direito de expressar também o meu.
Em suma, meus ilustres amigos, regresso para tentar ser o que sempre fui: um observador independente da política madeirense; um comentador de políticas e de condutas políticas; um homem livre que não cede a chantagens nem abdica do seu exercício diário de liberdade. Quando escreve e quando não escreve. E quem pensa que algum dia eu possa cair na tentação de ceder aos bruderes ou a outros cavalheiros quejandos bem pode esperar sentado. De preferência, sem chatear.
Agradecido.
Bernardino da Purificação

7 comentários:

António José Trancoso disse...

Senhor Bernardino da Purificação

Seja bem-vindo!
Confesso que errei no juízo que fiz acerca da sua prolongada ausência,julgando-a definitiva,pelas razões por mim expostas.
Continue, porque, afinal,"água mole em pedra dura,tanto dá..." que,mossa faz,e,pode ser que fure.

José António Silva disse...

Desejo que o fumeiro lhe tenha retemperado o espírito. Lhe tenha aguçado os sentidos. Lhe tenha dado leveza no manusear da pena. Confesso que me habituei a seguir este espaço. Comento quando acho que tenho. Acontece mais por impulso e nunca por hábito.
Permita-me que lhe teça um elogio porém. Sua escrita trancsreve um estado de espírito que em muito se coaduna com o meu próprio. Longe de sequer insinuar que somos iguais, refiro-me à alegria interior de partilhar um sentimento com alguém.

Anônimo disse...

É sempre um prazer ler os seus requintados textos repletos de sabedoria e pertinência. Você faz a diferença.

Anônimo disse...

Sr. da Purificação,

Um bem-haja pelo seu exercício diário de liberdade e um agradecimento especial por manter esta casa aberta a todos os que, curiosos, vão por aqui passando e bebendo das suas palavras.
Esta casa é uma Instituição.
Folgo em sabê-lo de volta.

Cumprimentos

Maria

Andesman disse...

"Lampião empedernido"?! Caramba é cá dos meus!
Bom regresso e felicidades.

Jjorge Figueira disse...

Ressuscitou, apesar de ter estado sempre vivo actualizando os blogues, o Bernardino com a sua brilhante prosa. Criou, com a falta de escrita, um grande suspense à volta da sua figura.
Um aspecto ao qual sempre manifestei alguma relutância, foi o do anonimato. Conheço esta terra bem. Sei que os Torquemadas têm uma terrível tendência para imporem o pensamentoi único. Levando a que as pessoas se acautelem com "alguns caldos de galinha" úteis à saúde... O escudo do anonimato é, porém,terrível. O Bernardino já nos disse que face à qualidade da prosa se sentira na obrigação de retirar comentários do Blogue.
O blogue é do Bernardino, logo, não nos resta outra opção que não seja aceitar as suas legítimas orientações.
Tendo já retirado comentários pela falta de qualidade dos mesmos, conhecendo também que alguns valentões estão sempre prontos, desde que bem escudados no anonimato, a insultar tudo e todos tendo eu também direito à opinião neste espaço que o Bernardino nos faculta, por isso, também tomo opções.
Eu, com mais três, se a memória me não atraiçoa, sempre colocámos o nosso nome naquilo que escrevíamos. Cesso agora a utilização deste espaço, pelo menos enquanto o anonimato aqui fizer escola,por considerar que campeia um ambiente nada convidativo ao debate de ideias.
Saio deixando para alguém, eventualmente, distraído a minha total identicação.
Sou cidadão Português nascido na Madeira EM PELNO USO DOS MEUS DIREITOS DE CIDADANIA. O meu nome é: JORGE GAUDÊNCIO MACHADO FIGUEIRA portador do BI 392008
A todos desejo Felicidades e um Até Sempre

Anônimo disse...

Jorge, tens a garra pidesca dentro de ti, o exagero de Ilheu sempre pronto a dar à língua e a desafiar as cagarras.E a quem diabo se importa quem sejas, ou donde venhas, ou mesmo o que escrevinhas ?Afinal somos todos anónimos, a começar por este Bernardino.Isso impede ou invalida seja o que for ?Queres Jorge, o reconhecimento das " massas", tu também ó Brutus ?Rapaz ( deve ser já um kota arrepiado..) vai te catar.Os Trancosos, Silvas, os de qualquer coisa, continuam a serem anonimos.Eu também, mesmo que seja o filho mais novo do Zé da Fajã, e toda a gente por lá nos conhece.
Zé da Fajã-BI 912359892-6 Arqº do Funchal