segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O território da consciência

Ainda bem que o dr. Ricardo Vieira fez o favor de nos tranquilizar. Estou-lhe grato. Duplamente grato. Por nos ter revelado que o episódio do Savoy lhe correu tão bem que até já admite prolongar o cansaço militante com que reparte a vida pela política e pelos negócios. E por nos ter garantido, a pretexto do mesmo edificante episódio, que o político Ricardo está cem por cento de acordo com a solução proposta à Câmara pelo advogado Vieira. Acreditem. É de políticos assim que a democracia precisa. São mais baratos. Geralmente mais eficazes. E, mal comparado, põem-nos em linha com a moda do dois-em-um que tantos problemas resolveu no mundo competitivo dos detergentes e champôs.
Não gosto de partilhar fraquezas íntimas. Mas podem crer que me sinto sempre emocionado quando a vida me revela, para lá de qualquer contestação ou controvérsia, que há, afinal, gente capaz de doar o seu escasso e desinteressado tempo à causa pública. Bem haja, pois, dr. Ricardo Vieira. Que o cansaço lhe seja leve. E que a forma despojada como interpreta as missões que abraça lhe dêem um dia a recompensa que merece.
Ironias à parte, diga-se em abono da verdade que o dr. Vieira não inaugurou propriamente nada de novo. Muitos outros, para além dele, andam desde há muito com um pé bem apoiado no lado da decisão e com o outro bem enfiado no estribo do interesse sobre o qual se decide. A novidade, no seu caso, é que pertence a um partido com queda para a retórica moralizadora da vida pública. Para já não falar, como é evidente, dessa pequeníssima insignificância que consiste no facto de integrar o órgão executivo de uma Câmara Municipal.
Dir-me-á, já sei, que não manda nem tem qualquer pelouro atribuído. Acrescentará, permito-me adivinhá-lo, que foi eleito por um partido da oposição. E arrematará, como é costume, com esse pequeno embuste que é dizer que nunca vota quando a consciência lhe diz que pode haver conflito de interesses. Compreenda. Uma vez que falamos de alguém que ocupa um lugar no órgão executivo de uma Câmara, nenhum desses argumentos pode ser levado a sério. Por uma razão tão simples quanto cristalina, para lá, naturalmente, de todas as outras que decorrem da lei. Nenhum eleito leva a sua consciência a votos. Esse é um território íntimo a que ninguém acede numa campanha eleitoral. O que quer dizer que nenhum eleitor vota com a alegre intenção de se fazer refém da consciência de quem elege. Pensar o contrário é ter da democracia a perversa ideia de que o voto não passa de um cheque em branco que pode ser usado ao gosto de circunstâncias ou de interesses de ocasião. Ora, acredite-se ou não, eu preferia pensar que o dr. Ricardo Vieira não interpretava dessa forma o exercício da política. O problema é que ele não ajuda.
Bernardino da Purificação

5 comentários:

amsf disse...

Suponho que quem o contrata para resolver "situações" que envolvam a CMF (e outras) não lhe passe pela cabeça o facto de ele ser vereador da referida câmara. Suponho que o maior incentivo é o facto de ele ser um corista da noite do mercado!

Anônimo disse...

Você não tem emenda, nesse espírito trauliteiro, ressabiado e maldoso, oh inefável amsf. Olhe para seu ps-m, e só depois fale dos outros. Por uma vez.

estudante disse...

é vergonhoso a falta de profissionalismo dos vereadores das câmaras municipais deste país. Será que é muito complicado perceberem o quanto se rebaixam...

Anônimo disse...

citação:
«E por nos ter garantido, a pretexto do mesmo edificante episódio, que o político Ricardo está cem por cento de acordo com a solução proposta à Câmara pelo advogado Vieira.»

pelos vistos confunde-se o que é dito por conveniência, não é bernardino?

o que o rv disse claramente é que embora estivesse contra o plano pelo excessivo indice derramado, abstendo-se e isto esta em acta e é posição identica aos elementos do pp na AMF, não é contra um investimento que poderá trazer emprego e mais valias para o funchal. sobre o edificio disse também que olhando para a maquete o dito monstro não lhe pareceu tão mau, alias posição identica aquela que a vereadora do ps teve, ver actas. sobre o contrato de urbanização logicamente não se manifestou porque tinha sido o autor.

impressições e falta de rigor tem caracterizado este seu comentario, como tantos outros que claramente deturpam a verdade.

Anônimo disse...

Quem saberá me informar se o dito Vieira é bailarino ? ou contrariamente,...... é tão só aquilo que todos nós bem sabemos ?