sábado, 29 de novembro de 2008

O fim do jogo de sombras

Estou cada vez mais convencido de que a latitude das imunidades que entre nós se pratica ameaça matar a democracia.
Não me compreendam mal, por favor. Não sou contra todas as democráticas prerrogativas que devem ter determinados titulares de cargos de políticos. É democraticamente útil que um deputado nunca se sinta constrangido quando, em nosso nome, exerce as suas funções. É perfeitamente entendível que um conselheiro de Estado não deva actuar com a reserva de uma qualquer limitação de cada vez que, nessa qualidade, for chamado a pronunciar-se sobre um problema do país. Não obstante, parece-me claro que o perfil das imunidades deve ter como destinatário e beneficiário único a democracia e não o interesse particular e pessoal de quem por elas possa estar abrangido.
Creio igualmente que as imunidades devem ser reguladas. E posso até compreender que a auto-regulação possa e deva funcionar como uma espécie de crivo primeira instância. Parece-me, no entanto, absolutamente perverso que a regulação do exercício das imunidades possa ficar refém da vontade mais ou menos corporativa dessa primeira instância. Eu sei que, no limite, o Tribunal Constitucional pode ter uma palavra a dizer quanto à forma como é interpretado e aplicado o regime de imunidades. Todavia, todos sabemos que, em termos práticos, o terreno onde se abriga esse regime é assim uma espécie de caixa-forte ciosamente guardada por quem dele beneficia. Julgo, pois, chegada a altura de alguém de bom senso ser capaz de propor medidas que restrinjam as interpretações demasiado extensivas do regime de protecção de alguns titulares de cargos políticos. Do mesmo modo que me parece evidente que é chegada a hora de se introduzir no sistema de verificação das imunidades um mecanismo regulador de natureza externa, que seja capaz de combater os tropismos corporativos que levam a que, no final de contas, todos se protejam uns aos outros. Tudo isto, em suma, para dizer que considero a todos os títulos obsceno que um político qualquer se considere no direito de barricar os eventuais desmandos da sua vida pessoal e profissional atrás de um regime que deveria ter como única finalidade proteger a política.
Como se tem visto, a pertinência do tema é mais do que muita. Porque as notícias que circulam não são tranquilizadoras. E porque a imunidade que a democracia exige parece estimular a formação de um inaceitável ambiente de impunidade para práticas de ética ausente e eventualmente delituosas.
Falemos claro. A opacidade é inimiga da legalidade. É atrás dela que se esconde tanto o grande crime como o pequeno delito. E uma sociedade, qualquer sociedade, só tem a perder quando os seus instrumentos de repressão criminal esbarram em zonas de sombra que certas práticas e costumes tendam a erigir. Ora, não há nada mais demolidor de um regime de imunidades do que a suspeita de que, paredes-meias com o que de positivo e estimável tem, possa também servir para abrigar a falta de transparência.
Como o tema é recorrente na discussão pública portuguesa, devo esclarecer por que razão o trago novamente a terreiro. Pois bem, faço-o por causa do chamado caso BPN. Mas faço-o sobretudo porque me parece inqualificável que um conselheiro de Estado não possa ser investigado e eventualmente constituído arguido apenas porque goza do estatuto especial que a sua função política lhe confere. Do mesmo modo que considero inaceitável que seja com a especificidade desse estatuto que se contenham na Madeira as eventuais ondas de choque que esse caso nos faça chegar. As notícias sobre as eventuais ligações de deputados da maioria a práticas menos regulares ou mesmo ilegais, no âmbito deste caso, merecem um esclarecimento cabal. Até porque já saturam as zonas de sombra que enevoam a nossa vida social.
Bernardino da Purificação

17 comentários:

Anônimo disse...

Viva o BPN !

Viva o Dr.Oliveira e Costa !

Viva o Presidente Cavaco !

Viva o Dr. Dias Loureiro !

Viva o Dr. Coito Pita !

Viva o Dr. Tranquada Gomes !

Viva o PSD - Nacional !

Viva o PSD - Regional !

Viva o Dr AJJ !

Viva as Sociedades de Endividamento !

Viva o Dr. João Carlos Cunha e Silva !

Viva as comissões dos emprestimos às sociedades de endividamento !

Viva o Santo Mamanço !

Viva aos grandes gatunos !

Viva a Mamadeira Contemporânea !

Acabaram os "Vivas", dado que tenho de trabalhar para poder a minha prestação do IRS.

Anônimo disse...

viva o ps
viva jorge coelho
viva o grupo vila galé
viva trindades
viva felgueiras
viva craxi
viva david caldeira
viva o pobre emanuel jardim fernandes
viva armando vara
viva a fundação mário soares
viva a fundação oriente
viva a iberdrola do pina moura
viva os escritórios de advogados e negócios de vitorino, jorge sampaio, etc.
viva o emprego dos filhos de jorge sampaio
viva a inocencia de paulo pedroso
viva a pobreza de almeida santos
vivam os advog do ps que trabalham para grupos madeirenses
viva jaime gama
viva o mérito enorme e a pobreza de estrela
viva a profissão de a j seguro...

Anônimo disse...

Lindo!!!
As comadres estão zangadas?!
Que maçada!
Mas, reparem, que o Terreiro da Luta não merece transformar-se em "terreiro de peixeirada" das "varinas" que, ora uma,ora outra,têm desgovernado este desgraçado País.
(O Botas deve dar pulos, de contente, na tumba!)
Em vez de tantos "encomiásticos vivas",porque não recolhem os "galhardetes", e dão, em uníssono,um vigoroso Viva ao povoléu que embarca na vossa dicotómica alternância?
Porventura,já pensaram que, um dia, pode emergir um Povo a sério?

Anônimo disse...

A verdade e a realidade infelizmente para alguns, também tem a má face.

O Professor Marcelo, reconhece que o assunto BPN, pode determinar o fim da cavaquismo.

Falamos do fim do PR, o qual para mal dos seus pecados, tens uns amigos pouco recomendaveis financeiramente falando, para além de lhes ter confiado algumas poupanças.

Em consequencia, o superior juizo dos nossos reconhecidos analistas, já lhe determinaram o termo da sua carreira pública.

Por cá, sabemos que o BPN, contrariamente às superiores determinações do Governo Central, emprestou enviesadamente (leia-se à pala da transparencia e da legalidade emegernte da consulta pública)uns brutos milhares de contas, para execução dos Heliportos, marinas do Lugar de Baixo(a propósito o Pestana arrependeu-se do negócio e o Povo continua sem noticas dos responsaveis ?)parques empresariais para pastagem de gado, restaurantes, bares e outros centros de divertimento para criação e multiplicação de moscas, os quais, negociados pelos deputados do regime (fantástico), renderam umas brutas comissões aos nossos politicos.

Resultado, ZERO

Pior se alguem falar do assunto, caem os impropérios, tais como os vertidos pelo segundo anónimo dos comentários anteriormente postados.

É este regime que pretendemos ?

É esta falta de transparencia, geradora de legitmas suspeitas e criticas, que legaremos aos nossos herdeiros ?

Seguramente que não, pelo que aconselho vivamente um maior sentido critico de intervenção a bem do nosso ego e da nossa inalienavel cidadania.

Anônimo disse...

«É democraticamente útil que um deputado nunca se sinta constrangido quando, em nosso nome, exerce as suas funções.»

Constrangido porquê? Se estiver a falar verdade, se não estiver a fazer nada contra a sua consciência, será pura cobardia ter medo de falar ou de actuar.

Quanto a mim, as imunidades não se justificam. E, mesmo que tenham alguma razão de ser, os inconvenientes são mais que muitos.

Quem se propõe a governar-nos deverá dar o exemplo e ser o primeiro a cumprir a Lei. Deverá ainda, através de uma actuação cristalina, promover um clima de confiança nos cidadãos.
Com tantas "sombras", mesmo aqueles que não têm rabos de palha passam por menos honestos.

Acabar com as imunidades pode até ser um bom caminho para acabar com os linchamentos na praça pública.

Anônimo disse...

Um grande bem haja ao comentário postado pelo Excelentissimo Comentador, Fernando Vouga.

Caro Amigo (permita-me o trato) estou totalmente consigo.

Anônimo disse...

O Senhor Coronel Monteiro Vouga tem razão.
Habituado, como está, com a Frontalidade Militar,jamais poderia concordar com a "impunidade" que serve de capa à covardia.
De facto,não se percebe por que, aos deputados, não lhes basta o preceito constitucional que garante,a todos os cidadãos, o direito à livre opinião!
Tanto bastaria para que, ao arbítrio da ofensa gratuita(em que a maioria, na Assembleia Regional,é useira e vezeira),se contrapusesse um salutar contraditório, assente em inteligente, séria e viva argumentação,logo, educada.
Muito há que fazer por uma democracia inquinada e gravemente doente.

Anônimo disse...

Luís Filipe Malheiro NOVAMENTE apanhado a MENTIR:

[a propósito da não eleição de Bernardo Martins para Vice da ALM]

"Do mesmo modo, falou Filipe Malheiro, Chefe de Gabinete do Presidente da Assembleia, quando no seu blogue “Ultraperiferias”, em 30 Agosto deste ano, sentenciou que “Krus Abecassis nunca chegou a ser eleito Vice-Presidente” da Assembleia da República. Não é verdade.

Fui pesquisar e publico extracto do Diário da Assembleia do dia da eleição:

VII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (1998-1999)
REUNIÃO PLENÁRIA DE 19 DE NOVEMBRO DE 1998

...................................

O Sr. Presidente (António de Almeida Santos)

Srs. Deputados, tenho o prazer de vos anunciar que o resultado da eleição para Vice-Presidente da Mesa da Assembleia da República a que se procedeu foi de 193 votantes, tendo o candidato proposto pelo CDS-PP, Nuno Abecasis, recebido 132 votos «sim» e 42 votos «não». Houve ainda 9 abstenções e 10 votos brancos.

Parabéns, Sr. Deputado Nuno Abecasis.

Aplausos gerais.

Aliás, Sr. Vice-Presidente Nuno Abecasis.
Um grande abraço, meu querido amigo.

in www.acagarra.blogspot.com

amsf disse...

Uma coisa é afirmar que a imunidade devia ser mais específica e restrita pois há muito político a lhe dar utilidades para a qual não foi pensada, outra afirmar que ela não devia existir! Os defensores desta posição ou são ingénuos ou supõem que a "oposição" não tem razão de existir! Não conseguem imaginar um poder, de qualquer cor partidária, a pagar com o erário público um batalhão de advogados para processar os líderes políticos da oposição de forma a mante-los manietados burocraticamente, judicialmente e economicamente? Qualquer um pode usar a justiça como arma de arremesso especialmente quando não a paga, não tem que dar a cara, não tem que dar os passos burocráticos, etc! O "processado" tem que pagar advogado, tem que perder o seu tempo, tem que da alguns passo burocráticos e tem que suportar o facto do seu nome estar a ser a arrastado na lama! Enquanto isso acontece não tem condições psicológicas e de credibilidade para exercer o seu papel de oposição! Para o poder, qualquer que seja o desfecho judicial, é indiferente pois o objectivo é maniatar o visado! Quanto à opinião pública, para ela é indiferente quem tem realmente razão...ela segue as maiorias!

Anônimo disse...

Os dois 1ºs. anónimos dão o retrato daquilo a que chegou a vida pública portuguesa. PS e PSD para os respectivos militantes (a grande maioria deles entenda-se)encaram a política como um Benfica Sporting.É preciso ganhar a todo o custo pois assim vão "pintar umas mordomias". Daí à denúncia dos erros do partido adversário vai curta distância. Esquecem duas coisas: 1º são iguais a fazerem despesas de ricos para nós pagarmos com os impostos num País onde eles não foram capazes de, em 30 anos, definirem objectivos de Estado; 2º Esquecem que, nós eleitores, estamos a ficar fartos deles. Já não nos levam "à bola"!
Estão decredibilizados. A imunidade de certos cargos até hoje tem , efectivamente, sido usada pra refúgio de cobardes que não assumem as aleivosias que pronunciam desvirtuando, assim, a razão de ser da imunidade que apenas visa salvaguardar a denúncia de situações que podem fazer perigar a democracia e não dar cobertura a indignidades de quem não se revela à altura da função que desempenha.

João Carvalho Fernandes disse...

Por momentos pensei que se estava a referir à imunidade de que tem gozado o nosso grande líder no processo que lhe colocou um membro do PS há 15 anos (Loja) e ao qual se tem esquivado por ser conselheiro de Estado!

Anônimo disse...

Caro(a) senhor(a) Amsf

No seu entender, se acabarmos com as imunidades, os políticos vão todos a correr para os tribunais para, desculpe o termo, lixarem os parceiros.
Ó meu(minha) caro(a) senhor(a)! Tem assim tão má opinião dos políticos? Eu não gosto muito deles, mas considero que na maioria são, no mínimo, pessoas normais. Apesar de a política ser a única "profissão" bem remunerada que não exige qualquer formação académica específica...
Por outro lado, há muitas pessoas importantes fora da política e muitas delas andam nas bocas do mundo. E conseguem sobreviver sem imunidades.
Vai sendo altura de os políticos se libertarem das suas mordomias e baixarem à Terra para saberem quanto custa a vida. Irem para as filas da Loja do Cidadão e das caixas dos supermercados, suportarem os apalpões dos seguraçças dos aeroportos, estacionarem os seus carros em parques pagos e sofrerem todos os "mimos" que fazem parte do dia-a-dia do cidadão comum.
Como qualquer outra pessoa, têm de se sujeitar a serem acusados injustamente. Quanto mais não seja, como incentivo para legislarem melhor, especialmente no que respeita à administração da justiça.
Para terminar, aceito com toda a humildade o epíteto de ingénuo. Mas não o sou assim tanto, ao ponto de engolir desculpas mais que esfarrapadas.

Anônimo disse...

Desenganem-se os ingénuos.

O grande problema não deriva da reconhecida e legal imunidade, mas si e tão só da ilegitima e dura impunidade.

Utilizar a linguagem que o Sr. Jaime Ramos utiliza na ALR (ainda esta semana...mesmo depois da triste e reles cena de hà tres semanas) é defendida e justificada pela imunidade ou pela impunidade dos politicos.

Qual a natureza e razão, para imunizar um politico, que no exercicio legitimo do mandato que o povo educado lhe conferiu, abre a boca na Assembleia, para deixar saír as barbaridads que todos infelizmente conhecemos

Se calhar nem é de impunidade que falamos, mas sim e tão só de inimputabilidade...e para esse grave problema, existe o Trapiche, Rilhafoles e outros manicómios algures...e com disponibilidades imediatas.

Anônimo disse...

MAS QUE DROGA!

Confesso que não entendo esta estratégia de meter a cabeça na areia. Esta manhã, dos seis projectos discutidos na Assembleia, quatro versaram assuntos directa ou indirectamente relacionados com dramas sociais. Todos levaram chumbo por parte da maioria política. Desde logo, uma proposta do PS-M que visava a instituição do "Parlamento Aberto sobre a Toxicodependência". Um jornada, em suma, aberta a alunos e professores, técnicos de saúde, magistrados, representantes de instituições policiais e membros do governo; depois, uma proposta do Bloco de Esquerda no sentido da criação de uma "Comunidade Terapêutica", no âmbito da toxicodependência, capaz de dar resposta aos dramas que por aí andam. Novo chumbo! Nem com a argumentação das aterradoras estatísticas, nem com a notícia da apreensão, ainda ontem, no aeroporto do Funchal, de 75 kg de cocaína oriunda da Venezuela, nem com a narração do que se passa em alguns bairros sociais da Região, nem com aquilo que todos sentem que a droga avassala e com difícil controlo, a maioria não foi sensível e disse não, isto é, disse NÃO à necessidade de instalação de uma designada "Comunidade Terapêutica", sempre com o estafado argumento que o governo está atento.
Estou certo que quando acordarem será tarde. Na década de 90, apesar das denúncias, a maioria ignorou a droga e os estragos que começava a produzir na Madeira, nesta década continua a varrer para debaixo do tapete um problema muito grave, quando se sabe (e parece-me natural) que para apanhar ou desmantelar uma rede, certamente muitos quilogramas entram na Região sem possibilidades de controlo. Muito ainda fazem as polícias. Certo é que ela está aí, com milhares de seringas trocadas, com muitos dramas familiares e muito silêncio político. Pergunto: a quem servirá este silêncio? Aos traficantes?
Qualquer pessoa de bom senso não entende este comportamento da maioria política.

in http://comqueentao.blogspot.com

Anônimo disse...

Desde hà longos anos que eu muito gostaria que me explicassem, porque motivo, nunca vezes nunca, assistimos nesta terra ao julgamento de um poderoso narcotraficante.

No restante País, idem, idem.

Afinal só acusamos simples amanuenses.

Qué dos Chefes, perguntaria o macaco...!

Anônimo disse...

PS salva gente grada!

Gente grada
Era fatal que, estando em risco a fortuna de tantas figuras gradas e de tantas respeitáveis instituições, o BPP "tinha" de ser salvo, apesar da sua irrelevância no sistema financeiro e na economia real (como aqui se registou)...
Para falar só nos grandes accionistas, quanto é que Rendeiro, Saviotti, Balsemão, Vaz Guedes e Cia. -- que vêem o banco e o seu próprio cabedal salvos da falência -- ficam a dever à diligência de Constâncio para encontrar uma solução e à disponibilidade do Governo para dar o aval do Estado à operação de resgate do BPP por vários bancos comerciais?
O mínimo que se pode exigir, a bem da transparência, é a divulgação de todos os pormenores da solução encontrada e, já agora, da identidade dos felizes contemplados com esta antecipada prenda natalícia...
[Publicado por Vital Moreira] [2.12.08] [Permanent Link]

Anônimo disse...

Completamente de acordo com o comentario anteriormente postado. Agora também estou com muita curiosidade de conhecer os negócios do BPN e respectivas comissões, obviamente com a identificação dos felizardos.