terça-feira, 3 de junho de 2008

O pai da casa-mãe

Gostei de ler a defesa apaixonada da Assembleia Legislativa que o nosso líder fez um dia destes no jornal que sustenta. Não posso dizer que tenha ficado comovido. Seria exagero dizê-lo. Mas a costela institucionalista que possuo (e que teima em resistir, ao arrepio do que diariamente me é dado ver) sentiu assim uma espécie de sentimento de gratidão para com as súbitas dores do dr. Jardim: ainda bem que ele nos veio lembrar que o nosso parlamento é a casa-mãe da autonomia de que não abdicamos; e graças a Deus que ele nos veio recordar que descredibilizar a casa-mãe equivale a fazer a mesmíssima coisa ao sistema de auto-governo que tanto prezamos e que tanto nos custou a conseguir. Bem haja por isso, senhor presidente. Os madeirenses em geral e os autonomistas em particular hão-de ficar-lhe eternamente gratos por verem que as preocupações de vossa excelência são as de um verdadeiro paladino da defesa da nossa assembleia.
É claro que uns e outros vêm observado algumas intermitências nessas suas preocupações. Pior. Os madeirenses em geral e os autonomistas em particular têm vindo a constatar que a chicana do relógio do deputado Coelho é quase nada quando comparada com algumas das atitudes de vossa excelência. Sem pretender ser exaustivo, recordo que é vossa excelência que diz que tem mais que fazer do que ir à Assembleia prestar contas ao povo cá da terra. É também vossa excelência quem brinda os eleitos do povo, em cujo voto se legitima, com o mimoso epíteto de "bando de loucos". E é igualmente vossa excelência quem governamentaliza e partidariza aquele que é, conforme vem agora jurar que reconhece, o órgão primeiro da nossa Autonomia.
É claro que compreendo a veemência dos seus públicos incómodos. Ninguém, a não ser vossa excelência, tem o direito de achincalhar o parlamento. Porque ele é seu, tal como é sua a autonomia, tal como é sua a Madeira, tal como é sua a vontade dos madeirenses. Terá sido por isso, aliás, que vossa excelência deu ordens para que se procurasse criminalizar a tal indigente chicana do relógio de cozinha do deputado Coelho. Não pelo conteúdo mais ou menos rasca da coisa. Mas pelo atrevimento que lhe esteve na origem.
Porém, admita: neste particular, v.exa cometeu um notório exagero. Porque certamente há-de saber que censura política é uma coisa, e criminalização de condutas políticas é outra completamente diferente. O que é que as distingue? Nem mais nem menos que a diferença que separa a democracia do fascismo puro e duro. Mas isso, claro, sabe vossa excelência melhor que ninguém. Até (não levará com certeza a mal que o recorde) por educação.
Aliás (e retomando a questão da casa-mãe da autonomia), v.exa é tão versado nessas matérias que até sabe que, nos tempos idos da ditadura, o presidente da Assembleia Nacional era escolhido por sua excelência o presidente do partido (AN) e do Conselho. E era-lhe, por isso, obediente e obrigado. Então, que fez vossa excelência com a nossa Assembleia? Está claro: a mesmíssima coisa. Só que, como a democracia tem outras regras, todos fazemos de conta que acreditamos que o presidente do parlamento madeirense é eleito pelos seus pares e não simplesmente escolhido por si. E todos fingimos que não há qualquer problema no facto de o dito presidente ser escolhido para uma sessão legislativa (isto é, para um ano) e não para toda a legislatura (ou seja, para os quatro anos entre as eleições legislativas) como no início acontecia. E na verdade até parece que não há. Porque assim é a soberana vontade de vossa excelência que se cumpre e prevalece. Mesmo que isso revele uma subordinação e uma obrigação política que atropela a democracia e devia sobressaltar a Autonomia.
Mas, o problema, como é evidente, é o relógio de cozinha do deputado Coelho. Se ao menos fosse de sala...
Bernardino da Purificação

Um comentário:

Anônimo disse...

O blogue social-fascista do Pravda-Ilhéu, cada vez mais ao serviço do grupelho com quem se identifica, veio defender a suposta coerência do Isidoro do MPT, dizendo que era um belo artigo, não obstante ele atacar a actual direcção do PS de João Carlos Gouveia, que o PRAVADA-ILHÈU dizia até há pouco tanto defender). Directrizes do Soviete Supremo da Rua da Carreira, que o Pravada teve de acatar? Não se sabe. Leia na postagem seguinte o artigo que João Isidoro poderia ter escrito, se não tivesse efectivamente ao serviço do PSD.
Publicada por basta que sim em 19:25
Etiquetas: O ARCO DO SISTEMA PPD/MPT