Para não variar, a histeria passou depressa. Jardim disse o que disse. Mas dois dias bastaram para que se esvaziasse o balão do descontentamento. Ainda bem que na Madeira é assim. As ofensas duram horas. E aos insultos mal se liga. Creio que neste particular o dr. Jardim tem carradas de sorte e de razão. Somos de facto um povo superior. Dotado de uma capacidade de encaixe virtual e virtuosamente ilimitada. Alegremente acomodado à frenética produção regional de ameaças e vitupérios. Olimpicamente condescendente com o sistemático atropelo da decência e das regras.
Os empresários do sector hoteleiro foram os alvos mais recentes dos humores incertos de sua excelência. Deram-se ao inenarrável desplante de almoçar com o primeiro-ministro do seu país. Terão mantido com ele um diálogo civilizado e eventualmente útil. E chegaram ao ponto de posar sorridentes para os flashes das câmaras dos fotógrafos. Um verdadeiro despautério, em suma. Que deixou o dr. Jardim de cabelos em pé. E lhe permitiu perceber uma realidade estarrecedora. A seguinte: na sua generalidade, os empresários estão muito mais interessados em olear a economia em que actuam do que em envolver-se na política politiqueira que não leva ninguém a lado nenhum. Hoje com o dr. Jardim. Amanhã com o engenheiro Sócrates. Depois de amanhã com quem lhes assegurar bons negócios e liberdade de acção.
Compreendamos, pois, o homem. Qualquer um no lugar dele reagiria como ele reagiu. Desde que, como é evidente, tivesse da democracia, do exercício do poder e da intervenção do estado na sociedade a concepção que ele manifestamente tem.
Bernardino da Purificação
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